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Meliponicultura como indicador da qualidade ambiental

Atualizado: 20 de jun. de 2023

As abelhas sem ferrão são um grupo de espécies de abelhas que compõem a tribo Meliponini, da família Apidae da ordem Hymenoptera.


As abelhas sem ferrão prestam diversos serviços ecossistêmicos, seja na reconstituição de florestas tropicais, seja na conservação de remanescentes florestais. São essenciais para a manutenção da biodiversidade, para a produção de alimentos e à vida humana, assumindo grande importância na manutenção do equilíbrio ecológico, com destaque para a polinização.


Estes insetos sociais atendem a uma crescente demanda agrícola por polinização, bem como despertam a atenção da sociedade em diversos segmentos, com uma rápida expansão da atividade de criação (meliponicultura) para a produção mel, pólen, cera e resina e mesmo de enxames.


Sua proteção e conservação passa pela necessária difusão de informações técnicas e qualificadas, ampliando o necessário conhecimento para o manejo sustentável. As abelhas sem ferrão são espécies que executam complexas interação ecológica, visto que dependem da coleta de diversos insumos, mantendo uma relação estreita de dependência com as condições ambientais onde se desenvolvem, como água, resina de plantas, solo, pólen e presença de materiais tóxicos, produzindo um importante registro das condições do ambiente em suas reservas produzidas na colmeia.


A grande riqueza de espécies de abelhas geralmente encontrada em cada localidade reflete a diversidade com que as várias espécies exploram o ambiente. Para que possam reproduzir-se, as abelhas necessitam de hábitats que preencham alguns pré-requisitos, conforme explicita Westrich (1996):

1– sítios ou substratos apropriados para nidificação;

2– para certas espécies, materiais específicos para construção de ninhos e,

3– quantidade suficiente de fontes de alimento (plantas floríferas) específicas.


Estas condições devem estar presentes, concomitantemente dentro da área de voo das abelhas. As exigências de cada espécie, com relação a estes três itens, entretanto, não são idênticas. Assim, algumas espécies de abelhas nidificam em galerias escavadas no solo, outras em orifícios escavados em madeira morta, outras em ocos de árvore etc.


Devido a esses aspectos, algumas espécies são generalistas quanto às fontes de alimento que exploram, outras dependem inteiramente de algumas espécies de plantas específicas. Estes fatores fazem com que diferentes espécies, ou grupos de espécies, em uma mesma localidade atuem como indicadoras de diferentes impactos sobre o ambiente.


Silveira & Campos (1995) mostraram que há uma relação entre a abundância e riqueza em espécies de tribos de abelhas coletoras de óleo (Centridini, Tapinotaspidini e Tetrapediini) e a riqueza em espécies de Malphighiaceae (cujas flores produzem o óleo procurado pelas abelhas). A alteração da vegetação nativa, com a diminuição da quantidade de plantas desta família pode, portanto, causar um decréscimo na abundância e riqueza de espécies destas abelhas. Outras abelhas dependentes dos recursos de outras plantas nativas podem também servir como indicadoras.


Além disto, as abelhas são altamente vulneráveis à intoxicação por praguicidas (Free, 1970; Thaler & Plowright, 1980; Hansen & Osgood, 1984; Thomson et al., 1985). Estas substâncias, ao contaminarem as flores, podem causar mortalidade generalizada entre as abelhas das mais diversas espécies.


As diferentes espécies de abelhas possuem diferentes capacidades de voo. Esta capacidade está, de modo geral, relacionada ao tamanho corporal. Assim, enquanto abelhas pequenas possuem raio de voo de dezenas de metros em torno de seu ninho, abelhas maiores podem voar até vários quilômetros de distância.


Espécies de abelhas sem ferrão do Rio Grandedo Sul

(Nome comum e científico):

Iratim, abelha limão - Lestrimelitta limao (Smith, 1863)

Iratim, abelha limão - Lestrimelitta sulina (Marchi & Melo, 2006)

Guaraipo, pé-de-pau - Melipona bicolor (Schencki Gribodo, 1893)

Manduri - Melipona obscurior (Moure, 1971)

Mandaçaia - Melipona quadrifasciata (Lepeletier, 1836)

Mirim do chão, bieira - Mourella caerulea (Friese, 1900)

Iraí - Nannotrigona testaceicornis (Lepeletier, 1836)

Mirim sem brilho - Paratrigona subnuda (Moure, 1947)

Mirim - Plebeia catamarcensis (Holmberg, 1903)

Mirim droriana, boca de sapo - Plebeia droryana (Friese, 1900)

Mirim emerina - Plebeia emerina (Friese, 1900)

Mirim - Plebeia meridionalis (Ducke, 1916)

Mirim nigriceps - Plebeia nigriceps (Friese, 1901)

Mirim guaçu - Plebeia remota (Holmberg, 1903)

Mirim saiqui - Plebeia saiqui (Holmberg, 1903)

Mirim mosquito - Plebeia wittmanni Moure & Camargo, 1989

Tubuna - Scaptotrigona bipunctata (Lepeletier, 1836)

Canudo - Scaptotrigona depilis (Moure, 1942)

Tubuna - Scaptotrigona tubiba (Smith, 1863)

Mel de chão, guiruçu - Schwarziana quadripunctata (Lepeletier, 1836)

Vorá, borá, jataizão - Tetragona clavipes (Fabricius, 1804)

Jataí, alemanzinho - Tetragonisca angustula (Latreille, 1811)

Jataí, alemanzinho - Tetragonisca fiebrigi (Schwarz, 1938)

Irapuá - Trigona spinipes (Fabricius, 1793)


A Tetragonista angustula, por exemplo, é popularmente conhecida como Jataí, um meliponíneo que ocorre naturalmente na maioria dos estados do Norte, Centro-oeste, Sudeste e Sul do país. Seu ninho pode ser construído em diversos locais como, por exemplo: árvores, galhos, casas, muros, entre outros. O manejo dessa espécie ganhou destaque devido ao fato de serem indivíduos dóceis e de fácil adaptação em ambientes rurais e urbano. Formam enxames pequenos, podendo produzir até 1.5 L de mel por ano em uma colmeia.


Cada colmeia é constituída por uma abelha rainha, pelas abelhas operárias e zangões. A rainha é única, sendo a fêmea reprodutora do ninho, responsável por botar os ovos que vão originar os novos indivíduos da colônia, e pode viver de 2 a 3 anos.


As fêmeas operárias são estéreis, responsáveis pela coleta de material a campo, como pólen, néctar, própolis e barro e vivem, aproximadamente, de 40 a 50 dias. Dentro da colônia constroem as estruturas internas do ninho com cera que elas mesmas produzem, fazem defesa da colônia e ainda produzem geleia real para as larvas na fase inicial e para alimentar a abelha rainha por toda sua vida.


Os zangões nascem apenas para reproduzir, permanecendo dentro da colônia até se tornarem maduros e depois saem em busca de rainhas virgens para fertilizar. Enquanto as abelhas com ferrão são fecundadas por vários machos, as abelhas sem ferrão são fecundadas por apenas um macho.


Nesse contexto, as abelhas sem ferrão e seus produtos são excelentes indicadores biológicos das condições ambientais. Metais pesados, pesticidas, radioisótopos e antibióticos colocam em perigo famílias de abelhas. Por conta das características das abelhas sem-ferrão, principalmente, por serem dóceis e apresentarem ferrão atrofiado e, portanto, inofensivo, tais espécies podem ser criadas tanto na zona urbana como zona rural sem riscos para a população, atuando, assim como importantes indicadores ambientais.

Proteja as abelhas sem ferrão!


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